Meus caríssimos irmãos,
Uns dias atras, no dia 13 de Julho para ser exacto, li, na Officia das Leituras, um extracto do primeiro livros das Crônicas (Capitulo 22 versos 5-11), uma conversa entre o Rei David, antes da sua morte, e o seu filho Salomão. Como sabemos, o rei David sentiu vergonha porque enquanto ele estava a viver num palácio, uma casa construída do cédaro, o Senhor estava numa tenda. Mas, nesta conversa que lemos no primeiro livro das Crônicas, o rei David revela ao seu filho que quando estava a planear edificar esta casa em homenagem ao Senhor, a Palavra do Senhor veio a ele advertindo o seguinte:
Derramaste muito sangue e fizeste grandes guerras; não construirás um templo ao meu Nome, porquanto fostes violento demais e derramastes muito sangue humano na terra diante da minha presença! Entretanto, tu gerarás um filho que será homem pacífico, e Eu lhe darei paz diante de todos os seus inimigos ao redor. Portanto, o seu nome será derivado de Shalom, Shelomo, Salomão, e Eu darei paz, descanso e segurança a Israel durante o reinado dele. É ele que vai edificar um templo em honra ao meu Nome. Eu serei seu Abba, Pai, e ele será Haben, o meu filho. E assim, estabelecerei para sempre o trono do reinado dele sobre todo o povo de Israel’
Obedecendo a palavra do Senhor, rei David não constriu o templo, mas mandou o seu filho Salomão erigir esta casa, que Salomão eventualmente fez.
Eu sorri quando li esse extracto, porque percebi que houve um mal entendimento do rei David. A palavra do Senhor não estava a referir ao Rei Salomão, mas sim ao Nosso Senhor Jesus Cristo. O Nosso Senhor também é filho do David, e lembrai-vos da profecia do profeta Isaías, que nós lemos no Natal:
um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido, e o governo está sobre os seus ombros. Ele será chamado Conselheiro-Maravilhoso, Deus Todo Poderoso, Pai-Eterno; Sar-Shalom, Príncipe-da-paz. Ele será descendente do rei Davi; o seu poder como rei se multiplicará sobremaneira, e haverá plena paz em todo o seu Reino.
Ia ser o Nosso Senhor que ia construir um Templo em honra ao nome do Seu Pai, o trono que seria estabelecido para sempre, e nunca ia ser destruído. Esse templo foi o Seu próprio corpo, que depois da Sua morte, foi ressuscitado, e existe agora e para sempre, reinando no Céu ao lado direito de seu Pai.
O meu objectivo em contar esta história era dar um contexto para perceber melhor a primeira leitura de hoje, que conta o encontro entre Salomão e Deus. E também para apontar que a figura do histórico Rei Salomão era somente uma forma antecipada de Nosso Senhor. Podemos ver em Salomão uma figura que o Nosso Senhor ia completar. Lendo sobre Salomão podemos vislumbrar a vida interior do nosso Senhor Jesus Cristo.
Por exemplo, na primeira leitura, no diálogo entre Salomão e o Deus, obtemos uma janela para ver a conversa entre Deus Pai e o Deus Filho - ou seja, a oração do Pai ao Filho - obtemos uma visão dentro do coração do Nosso Senhor.
Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente,
para governar o vosso povo,
para saber distinguir o bem do mal;
Recebemos nesta conversa entre Salomão e O Senhor uma visão dentro do coração sagrado do Jesus. É um coração inteligente, que sabe distinguir entre o bem e o mal. Em outras palavras, é um coração sábio. Como o Senhor prometeu ao Salomão:
Dou-te um coração sábio e esclarecido,
como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti.
Ao dar-nos o exemplo do Rei Salomão, e sobretudo de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Mãe Igreja, está a mostrar-nos o que deveria ser a nossa súplica ao Deus. Não devíamos pedir, como é geralmento o nosso costume, a riqueza, ou nos termos da primeira leitura, a morte dos nossos inimigos – como o mal estado da saúde, uma situação que nos persegue, ou até uma pessoa de que não gostamos e que nos chateia. Temos que pedir sempre um coração inteligente, semelhante ao Sagrado Coração do Nosso Senhor, um coração que é sábio e esclaracido, um coração que – nos termos do salmo de hoje – vai amar a lei do senhor, e portanto, um coração que vai conseguir distinguir entre o bem e o mal.
E o nosso senhor próprio quer que isto seja o nosso oração, porque se não, como é que vamos conseguir distinguir entre coisas boas que vão para os cestos, e as coisas que não prestam e devem ser deitadas fora?
Mas há uma outra coisa interessante em que devíamos prestar a nossa atenção. As coisas que o Nosso Senhor esta a recomendar-nos não são coisas propriamente ditas sãs ou pragmáticas. Vender tudo que uma pessao tem para obter um tesouro no campo, ou uma pérola – não é algo aconselhável. Mas se o nosso senhor está a fazer isto, é porque Ele esta a indicar-nos que as coisas deste mundo são boas, só se servem para levar-nos até o Reino do Céu. Tal como Salomão, e como o Nosso Senhor também, devíamos sempre utilizar as coisas do mundo com uma olhar, um insight, que vem dum coração sábio.
E por isso, meus queridos irmãs e irmãos, rezamos sempre esta pequena oração ligada com a devoção ao Sagrado Coração de Jesus para que possamos cultivar um coração semelhante ao dele:
Jesus Manso e Humilde de Coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso.
Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo, e para sempre seja louvada a Sua Mãe Maria Santíssima.
(Pregado na Igreja Paróquial de São Nicolau, Lisboa)
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