Sunday, July 30, 2023

Um coração como nunca houve: Homilia para 17º Domingo do Tempo Comum

 


Meus caríssimos irmãos,

Uns dias atras, no dia 13 de Julho para ser exacto, li, na Officia das Leituras, um extracto do primeiro livros das Crônicas (Capitulo 22 versos 5-11), uma conversa entre o Rei David, antes da sua morte, e o seu filho Salomão. Como sabemos, o rei David sentiu vergonha porque enquanto ele estava a viver num palácio, uma casa construída do cédaro, o Senhor estava numa tenda. Mas, nesta conversa que lemos no primeiro livro das Crônicas, o rei David revela ao seu filho que quando estava a planear edificar esta casa em homenagem ao Senhor, a Palavra do Senhor veio a ele advertindo o seguinte:

Derramaste muito sangue e fizeste grandes guerras; não construirás um templo ao meu Nome, porquanto fostes violento demais e derramastes muito sangue humano na terra diante da minha presença! Entretanto, tu gerarás um filho que será homem pacífico, e Eu lhe darei paz diante de todos os seus inimigos ao redor. Portanto, o seu nome será derivado de Shalom, Shelomo, Salomão, e Eu darei paz, descanso e segurança a Israel durante o reinado dele. É ele que vai edificar um templo em honra ao meu Nome. Eu serei seu Abba, Pai, e ele será Haben, o meu filho. E assim, estabelecerei para sempre o trono do reinado dele sobre todo o povo de Israel’

Obedecendo a palavra do Senhor, rei David não constriu o templo, mas mandou o seu filho Salomão erigir esta casa, que Salomão eventualmente fez.

Eu sorri quando li esse extracto, porque percebi que houve um mal entendimento do rei David. A palavra do Senhor não estava a referir ao Rei Salomão, mas sim ao Nosso Senhor Jesus Cristo. O Nosso Senhor também é filho do David, e lembrai-vos da profecia do profeta Isaías, que nós lemos no Natal:

um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido, e o governo está sobre os seus ombros. Ele será chamado Conselheiro-Maravilhoso, Deus Todo Poderoso, Pai-Eterno; Sar-Shalom, Príncipe-da-paz. Ele será descendente do rei Davi; o seu poder como rei se multiplicará sobremaneira, e haverá plena paz em todo o seu Reino.

Ia ser o Nosso Senhor que ia construir um Templo em honra ao nome do Seu Pai, o trono que seria estabelecido para sempre, e nunca ia ser destruído. Esse templo foi o Seu próprio corpo, que depois da Sua morte, foi ressuscitado, e existe agora e para sempre, reinando no Céu ao lado direito de seu Pai.

O meu objectivo em contar esta história era dar um contexto para perceber melhor a primeira leitura de hoje, que conta o encontro entre Salomão e Deus. E também para apontar que a figura do histórico Rei Salomão era somente uma forma antecipada de Nosso Senhor. Podemos ver em Salomão uma figura que o Nosso Senhor ia completar. Lendo sobre Salomão podemos vislumbrar a vida interior do nosso Senhor Jesus Cristo.

Por exemplo, na primeira leitura, no diálogo entre Salomão e o Deus, obtemos uma janela para ver a conversa entre Deus Pai e o Deus Filho - ou seja, a oração do Pai ao Filho - obtemos uma visão dentro do coração do Nosso Senhor.

Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente,

para governar o vosso povo,

para saber distinguir o bem do mal;

Recebemos nesta conversa entre Salomão e O Senhor uma visão dentro do coração sagrado do Jesus. É um coração inteligente, que sabe distinguir entre o bem e o mal. Em outras palavras, é um coração sábio. Como o Senhor prometeu ao Salomão:

Dou-te um coração sábio e esclarecido,

como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti.

Ao dar-nos o exemplo do Rei Salomão, e sobretudo de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Santa Mãe Igreja, está a mostrar-nos o que deveria ser a nossa súplica ao Deus. Não devíamos pedir, como é geralmento o nosso costume, a riqueza, ou nos termos da primeira leitura, a morte dos nossos inimigos – como o mal estado da saúde, uma situação que nos persegue, ou até uma pessoa de que não gostamos e que nos chateia. Temos que pedir sempre um coração inteligente, semelhante ao Sagrado Coração do Nosso Senhor, um coração que é sábio e esclaracido, um coração que – nos termos do salmo de hoje – vai amar a lei do senhor, e portanto, um coração que vai conseguir distinguir entre o bem e o mal.

E o nosso senhor próprio quer que isto seja o nosso oração, porque se não, como é que vamos conseguir distinguir entre coisas boas que vão para os cestos, e as coisas que não prestam e devem ser deitadas fora?

Mas há uma outra coisa interessante em que devíamos prestar a nossa atenção. As coisas que o Nosso Senhor esta a recomendar-nos não são coisas propriamente ditas sãs ou pragmáticas. Vender tudo que uma pessao tem para obter um tesouro no campo, ou uma pérola – não é algo aconselhável. Mas se o nosso senhor está a fazer isto, é porque Ele esta a indicar-nos que as coisas deste mundo são boas, só se servem para levar-nos até o Reino do Céu. Tal como Salomão, e como o Nosso Senhor também, devíamos sempre utilizar as coisas do mundo com uma olhar, um insight, que vem dum coração sábio.

E por isso, meus queridos irmãs e irmãos, rezamos sempre esta pequena oração ligada com a devoção ao Sagrado Coração de Jesus para que possamos cultivar um coração semelhante ao dele:

Jesus Manso e Humilde de Coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso.

Louvado seja o Nosso Senhor Jesus Cristo, e para sempre seja louvada a Sua Mãe Maria Santíssima.

(Pregado na Igreja Paróquial de São Nicolau, Lisboa)

No comments: